Lembro-me de, há uns quatro anos, ainda com a Maria do Carmo longe de ser feita, estar com um grupo de amigos numa discoteca - será que ainda se diz discoteca, ou já estarei tão desatualizada como quem dizia boîte há 15 anos? - e encontrar uma amiga que tinha sido mãe há uma semana. Dizia-me ela que precisou de sair para arejar e que a bebé tinha ficado com a avó. Que eu iria perceber quando fosse mãe.
Escusado será dizer que, mal ela virou costas, foi um descambar de "que raio de mãe'", "deve gostar muito da filha" e "queria era vir laurear a pevide". E eu defendi-a, claro. Que ninguém sabia como era, por isso não poderia falar.
Lembro-me de, ainda grávida, estar a falar com uma amiga que tinha sido mãe há dois meses e que me contava que o leite tinha secado ao fim de um mês. Mas que tinha as suas vantagens, porque no mesmo dia, tinha deixado o filho com o pai, devidamente munido de biberões e leite em pó, e tinha passado a tarde no cabeleireiro, a fazer tratamento completo, dos pés à cabeça e com tudo o que tinha direito. Que precisava de voltar a sentir-se bonita. Que eu iria perceber quando fosse mãe.
Lembro-me de ser mãe há meia dúzia de meses e encontrar uma amiga que tinha um filho de 10 meses. Estava ela ofegante após uma vigorosa caminhada. Perguntei-lhe, claro, como estava o rebento. Estava ótimo e tinha ficado com a tia. Que ela precisava de voltar a fazer alguma coisa por ela. Que eu iria perceber quando passasse a novidade de ser mãe.
Pois, o problema é que ainda não percebi nada disso. Parece que ainda não me caiu a ficha.
Tirando quando estou a trabalhar - e passei a trabalhar só meio tempo -, quando ela está a dormir ou ao domingo, em que eu durmo um bocadinho de manhã - sob pena de virar um Godzilla demolidor durante a semana -, estou sempre com a CLSM. Ou pelo menos estou perto dela enquanto ela está com outras pessoas ou a fazer as coisas dela e eu as minhas.
E então, quando é que afinal vou perceber?! Alguém me diz?!
É porque qualquer dia saio à noite e danço a Macarena achando-me o máximo, tenho cabelo - já quase todo branco - até ao rabo e nem me consigo baixar de tão emperrada.
E sei que tenho de aligeirar a coisa. E critico-me.
Mas se eu não critiquei as minhas amigas, todos elas mães extremosas e dedicadas, mas mais desprendidas que eu, porque é que me critico tanto a mim?
Porque sei que estou errada.
Qualquer dia tenho de mudar. Qualquer dia...
Beijo da Patinha *
P.S. - Depois de reler o texto, apercebi-me que todas as minhas amigas quase que se tinham justificado por não estarem com os filhos, ou porque precisavam de arejar ou por qualquer outra coisa. Por momentos tinha-me esquecido que, quando nasce uma mãe, nasce uma culpa sem fim. Até pelo vento que passa...
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