terça-feira, 21 de abril de 2015

O caso de espremer as mamas!





Teria de inevitavelmente falar sobre isto, já se sabe.

E desta vez até consegui que fosse passados  2 dias após a notícia inicial. E, claro, após já toda a gente neste Reino (estou ainda em modo Guerra dos Tronos) ter opinado sobre isso.  

Mas até não está mal. Geralmente ponho todas as minhas opiniões, peso os prós e contras e concluo brilhantemente em textos que escrevo mentalmente. E aí ficam. A coleção de textos mentais que tenho faria inveja até à biblioteca paroquial do Sever do Vouga.

Mas hoje consegui. Cá vai.

Ao que parece estes senhores de dois hospitais do Porto decidiram inventar uma coisa genial a que poderiam ter chamado de prova física de amamentação.

Eu chamar-lhe-ia uma vergonha.

Enquanto jurista não vou trazer nada de novo à colação, porque tudo já se disse e explicou. É até muito simples o procedimento a adotar, sem dar azo a grandes  interpretações. E a simplicidade e clareza nestas coisas é tão rara que há de enaltecer. A ver se pega a moda...

Em suma, depois do filho perfazer 1 ano de idade, a mãe trabalhadora que amamenta continua a ter na sua esfera jurídica o direito a dispensa para amamentação até o máximo de duas horas por dia - em dois períodos distintos, salvo acordo em contrário- , enquanto subsistir a amamentação. A prova é feita mediante entrega de atestado médico à entidade empregadora.

Em momento ou lado algum se prevê que a prova passe por espremer mamas.

É claro que se trata de um procedimento lesivo, abusivo e atentatório dos direitos humanos (e não dos redutores direitos das mulheres).

Enquanto pessoa, mulher e mãe acho mais. Acho vergonhoso.

Eu amamentei a CLSM até aos 8 meses. Adorei amamentar. Cada momento.

Mesmo quando passava 8 em 24 horas do meu dia com a piquena na mama.

Também ajudou ter corrido tudo bem desde que ela  sofregamente abocanhou. Não tive problemas com a subida (ou descida) do leite, com feridas ou gretas - tinha um creme maravilhoso e curava tudo com leite da própria mama. Ela e(ra) uma comilona e fui de facto muito feliz a amamentar. Arrisco a dizer que fomos.

Antes de ela nascer, como não sabia como reagiria à amamentação frente a outras pessoas, comprei um avental de amamentação. Usei uma vez. Bastou. Só me parecia uma mini-burka a esconder a origem de todo o Mal, a mulher e a mama. E quase que a perdia ali debaixo.

Percebi logo que frente a familiares e amigos não tinha qualquer problema em sacar da mama e pimba que já almoçaste. Em sítios publicos, não exibia, mas não escondia. Sinceramente, já era tão natural que por vezes até me esquecia. Se houvesse algum sítio específico para amamentar usava, se não houvesse escolhia o sítio mais calmo possível. 

Nunca fui uma pessoa pudica, Deus sabe, mas na verdade nem se tratou disso. Amamentar foi-me tão natural e instintivo que passou a fazer parte de mim.

Mas quando li a notícia dei por mim a imaginar-me na situação destas mulheres. Imaginei-me frente a um painel de médicos e enfermeiras que me pediam para espremer as mamas. A ver se saia leite. Assim. 

Não concebo. Acho tão humilhante e degradante que é inqualificável.

E isto sem falar das questões mais práticas.

No último mês que amamentei já tinha pouco leite e só lhe dava de mamar à noite, quando tinha mais leite. Não sei se conseguiria tirar leite de manhã, por exemplo.

Além disso a ansiedade também pode contribuir para a diminuição ou retenção do leite. E não, isto não é história de hippie de Woodstock ou hipster do Coachella que só come orgânico. Fiquei um dia inteiro sem pinga de leite depois de uma notícia que me deram.

Por todas estas razões e mais alguma parece-me tudo isto deplorável.

Agora, há aqui um senão. Um grande senão.

Estas duas mulheres fizeram as queixas. Mas e as outras? Quantas negaram fazer o teste não por uma questão de princípio - perfeitamente defensável -, mas porque não estão de facto a amamentar?

Quantas mulheres apresentam declarações médicas que atestam o que é falso?

Lembro-me de ter várias conversas com mães que me diziam que iam fazê-lo. Sem pena nem remorsos. Que eu era tonta por não fazer o mesmo (Já repararam que este é o argumento preferido de quem conscientemente erra, mas não o quer fazer só?).

Não o fiz nem faria. A mentira é uma cor que não combina com a minha pele. Não saberia viver com isso. Pode parecer um dos meus típicos dramatismos ou um olha-para-ela-armada-em-santa-perfeita-que não-mente-hás-de-ir-para-o-céu-queres-ver. Mas é o que temos.

Se me incomoda a situação dos falsos atestados? Não deveria. Mas incomoda.

Eu optei por trabalhar só cinco horas por dia e às 14 horas saio de vez para ir ter com a minha filha. 

É maravilhoso e não trocava por nada. 

Mas quando vejo o meu recibo de salário sinto sempre uma dor de burra nas entranhas. A redução é grande e só o consigo fazer com alguma ginástica financeira e abdicando de muita coisa boa. O supérfluo, que é sempre o melhor, é agora uma doce mas turva recordação que nem estou certa que aconteceu.

Mas não me queixo. Foi uma escolha.

Mas poderia ter exatamente o mesmo horário que tenho atualmente - que foi o que pratiquei também no período da aleitação/amamentação - e receber o salário por inteiro. Bastava apresentar um atestado como tantas mães com as mamas mais secas que eu fazem.

Não me parece justo. E o procedimento simples acaba por criar desequilíbrios e assimetrias.

Por culpa de quem mente. Sim, mentem. As mães e o médicos. 

Os médicos é que deveriam ser responsabilizados pelas falsas declarações, como li algures. Correto. Concordo. 

Mas como, já agora? Ora se a mulher não pode - nem deve - ser obrigada a espremer a mama, nunca se vai saber se amamenta ou não. Logo, nunca se vai saber se o médico agiu em conluio com a paciente no sentido de defraudar a entidade empregadora.

É uma pescadinha de rabo na boca, é o que é.

Mas tinha uma solução muito simples para acabar com tudo isto.

As mães que optassem por ficar em casa nos três primeiros anos dos filhos receberiam 50% do seu salário e as que optassem por, nesse mesmo tempo, trabalhar a meio tempo, receberiam o seu salário por inteiro.

Ah, mas a Segurança Social não aguenta esse esforço. E sem natalidade, sem contribuintes daqui a 30 anos vai aguentar-se? 

Uma solução do género é essencial e só não vê quem não quer ver. Ou pagar.

E não nos faziam favor nenhum.


Beijo da Patinha *

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