Pensei durante muito tempo que a CLSM não teria um objeto de transição.
Para quem não é progenitor, eu troco por miúdos.
O objeto de transição ou transitivo é um objeto que ajuda a criança a lidar com situações novas, desconhecidas, de separação, medo ou angústia. Um conceito desenvolvido por Winicott (com a devida vénia, excelentíssimo maravilhoso!), que acredita que a criança vê neste objeto quase que o substituto da mãe.
Na prática é aquele trapo, boneco ou fralda já toda ranhosa e mais suja que o tempo que as crianças agarram como se não houvesse amanhã, levam para todo o lado que nem carapaça de tartaruga e que se calha a ser perdido - Deus nos livre e guarde - cai o Carmo e a Trindade.
É isso.
É isso.
A Maria do Carmo só lá por volta dos 11 meses é que, de entre tanta bonecada, se perdeu de amores por uma gatinha que lá andava. Uma coisa fofa e amorosa (mas quem és tu, pessoa que diz fofa e amorosa?!) de seu nome Daisy.
Sim, se eu soubesse que essa seria a sua mais-que-tudo, teria escolhido outro nome.
Foi um amor que nasceu do nada e verdadeiramente arrebatador.
A Daisy foi usada e abusada. Levou mais abraços que político em dia de vitória e mais beijos que bandeira em dia de procissão.
Aliás, olhava para a CLSM e lembrava-me de uma personagem de desenhos animados que adorava: a Elmyra dos Tiny Toons. Alguém se lembra? A que abraçava os animais com tanto amor que quase os sufocava? O que eu adorava esta criatura incompreendida:
E assim era a Maria do Carmo com a Daisy.
Havia alturas que até ficava a pensar se aquilo não seria exagerado, se seria - odeio esta palavra - normal. Pois, eu penso em demasia.
É que, na verdade, apesar da Daisy ser a vítima preferencial, a minha pimpolha adorava - e adora - dar abracinhos e beijinhos aos seus bonecos todos.
Aliás, a tudo. Não devem ser muitas as crianças que dão beijinhos a bolas e abraços a lápis de pau.
Mas se ela recebe muito mimo, muitos beijos, muitos abraços tem de dá-los também. E dá. Todos os dias. Aos pais, aos avós, aos tios, aos amigos e basicamente a tudo o que existe.
Se não é normal, é pelo menos normal para ela. Dela.
Logo, para mim também.
Logo, para mim também.
E pronto, de repente a Daisy passou a fazer parte da família.
Para onde fossemos, lá ia Daisy na minha mala "paxiá".
A bendita da "boneca/gata" - nome de código para podermos procurá-la sem se levantar um motim - só se perdeu temporariamente duas vezes. E em ambas as vezes, em abono da verdade, os pais ficaram mais aflitos que a filha.
Mas, não fosse o Diabo tecê-las, comprámos uma segunda Daisy que lhe oferecemos no Natal. A expressão de felicidade incrédula quando, com a sua Daisy na mão, abriu o presente e viu outra foi impagável. Olhava para uma e depois para outra que nem espetador de jogo de ténis.
Do topo dos seus 17 meses só dizia:
- A Dé! Tanta, tanta!
Depois disso a Daisy 2 ou Daisy estou-infinitivamente-mais-limpa-e-não-estou-descosida-em-parte-nenhuma ficou guardada no vestuário. Só para tranquilizar a mãe patinha e o pai galo.
Entretanto, aí por volta dos 20 meses, a paixão inicial começou a apagar-se. Se via a bicha era uma loucura de abraços, mas já não pedia por ela. Olhos que não vêem coração que não sente.
A coisa estava toda muito bem até a minha mãe ter tido a brilhante ideia de oferecer-lhe uma Minnie que vimos numa qualquer loja de brinquedos.
Foi amor à primeira vista. Ela abraçou-a e ainda na loja batizou-a, dando-lhe beijos:
- Minnie Ziganti
E sim, o estupor da Minnie é gigante. E gira que se farta. Mas gigante.
Para que percebam a diferença, a Minnie - que está sentada, note-se - e a Daisy:
E agora que ela quer andar com a Minnie a reboque?
É que para eu levar a dita cuja na minha mala, tenho de passar a andar de mala de viagem.
Que já esteve mais longe, é verdade.
Estou tramada.
Obrigadinha, mãe. Sim?
Beijo da Patinha *
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