Pois, parece que o acordo ortográfico (AO) já entrou em vigor há duas semanas - sempre atual, eu - pondo fim à fase de transição e adaptação.
Não, parece que afinal não. Que legalmente só entrará em vigor em 2016.
Na verdade nem me dei ao trabalho de ir ver os argumentos aduzidos num e noutro sentido. É com tanta informação e contra-informação que já não se aguenta.
Mas faz todo o sentido que isto da entrada em vigor seja como o próprio AO: confuso e despropositado.
Despropositado - para não dizer de uma subserviência atroz - porque, dizem eles. nasce de uma necessidade de uniformizar a língua e manter um domínio e controle da língua portuguesa por parte de Portugal.
Mas que controle é esse, pergunta esta mãe Patinha armada em linguista?
Como é que se pode conceber a ideia de alterar a nossa forma de escrever pelo simples facto da língua portuguesa em Moçambique ou no Brasil ser escrita de forma diferente?
É diferente porque evoluiu de forma diferente. Teve outras influências.
E isto sou eu a ser muito simpática. Porque se não fosse, acrescentaria que também é diferente porque não souberam aprender corretamente a língua portuguesa. Mas como sou simpática não o digo.
Seja como for, essas evoluções e alterações deram-se de forma diferente em cada país, E é aí que devem ficar. Porque a língua é o espelho do povo. Do seu contexto e trajeto.
Ponho-me só a imaginar agora a Inglaterra a fazer uma coisa destas. A adaptar-se aos americanos. Os argumentos seriam transversais. Exatamente os mesmos.
Passar a ser theater - à uncle Sam - em vez de theatre - à british posh.
Acho que se vendessem esta ideia à rainha ela morreria de tanto rir. Bem, ao menos o triste do Carlos, o eterno príncipe já quase caquético, poderia enfim ser rei. Se ele for esperto, ainda fala à mãe nisto. A ver se lhe dá o badagaio.
E depois ainda tem a outra parte. Que é um bocadinho humilhante, diga-se. Aquela parte em que parece que todos os outros países ignoraram o acordo, à exceção do Brasil, que parece - parece - que sempre o vai implementar.
Então afinal serve para uniformizar o quê, exatamente?
Um absurdo é o que é.
De qualquer forma, se estiverem atentos, repararão com certeza que neste e nos outros textos escrevo já muitas vezes com a grafia estabelecida pelo AO.
E como é que pode ser, se a pessoa aqui é tão contra o malfadado acordo?
É simples. Porque há coisas que me fazem sentido.
Faz-me sentido escrever exatamente, trajeto, ação ou ótimo, Mas só porque se mantém facto e pacto. Tal como se diz.
Mas já não espetador, porque parece que está a espetar coisas, em vez de assistir um espetáculo. Mas espetáculo já me faz sentido sem o "c", engraçado.
Mas há consoantes mudas que realmente não fazem lá muito, não. São tipo os relações públicas. Ninguém sabe bem o que fazem nem para que servem. Mas aparecem nas revistas.
Ah, mas servem para abrir as vogais (as consoantes, não os rp's, entenda-se). Pois, mas há imensas palavras com grafia semelhante e em que numa lê-se a vogal aberta e noutra fechada. E sabemos como funciona.
Não seria fulcral esta alteração. Realmente. Provavelmente nem necessária. Ou mesmo legítima.
Mas não me choca, nem me tira o sono que se retire essas consoantes. Mesmo que por decreto.
A alterar terá de ser assim, por decreto mesmo. Não somos o povo mais dado a alterações da língua. A alterações do que quer que seja, se pensarmos bem.
Mas depois há todo um mar, um oceano, um mundo e um universo de incoerências e incongruências neste AO.
E pior, coisas simplesmente estúpidas.
A quem lembra passar a ser janeiro em vez de Janeiro? E verão em vez de Verão?
A quem lembra passar a ser para, em vez de pára?
- Para aí!
- Está bem, venho para aqui.
- Não, para aí!
- Tum bum lum tum (som do cego a cair no penhasco)
Ai, Virgem santa, que coisa horrível!
A quem lembra passar a ser cor de vinho em vez de cor-de-vinho? Mas continuar a ser cor-de-rosa.
A quem lembra passar a ser há de em vez de há-de? A sério? Quem é que se lembrou de alterar isto? Mas porquê? Uma ideia tão estúpida como os cabos de selfies.
E fim de semana em vez de fim-se-semana?
Bem, ao menos só tiraram o hífen e deixaram-nos o fim-de-semana.
E então o que temos em respeito ao AO?
Duas coisas:
Uma Filipa funcionária pública que terá de escrever e escreve de acordo com o AO.
Uma Mãe Patinha que escreve como bem lhe apetece. Com algumas palavras novas e muitas antigas. A gosto da freguesa.
Por isso, fica lavrado para memória futura que por estes lados, todos os textos são escritos de acordo com o Acordo Filipográfico. Por decreto real.
Beijo da Patinha *
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